quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Frio.


Estava frio, estava na altura certa para começar a nevar. Mas não nevou. E pouco choveu.
Estava frio, na rua estava pior.

Muitas luzes. Mesmo assim tantas não afastavam o frio.
O vento começava a cortar. O nariz a pingar. O céu parecia estar a estalar. Luzes, de muitas cores, feitios e aspectos. Mas não aqueciam pele nem coração.
A tua presença sim. O teu corpo sim. O teu carinho também.

Tenho estado à espera para poder esperar por ti.
O frio abraça-me, retira-me o ar, queima-me… É como estar preso por correntes de gelo. Sinto o seu frio gelado a queimar e a enterrar-se na minha carne. Só com a ajuda do teu calor consigo aquecer. Só com esse calor consigo derreter estas correntes. Para voltar a ser livre.

Era quase sempre noite. Escuridão e muito frio. Sentia-me mais gelado do que estivesse mais longe do Sol do que Plutão está.
Mas abracei-te, e passou.

Muitas luzes, pessoas, comida, bebida, barulho, ruído, conversa, silêncios. Aqui estou. Não sinto tanto frio célsius. Mais uma vez muito frio corporal e emocional.

Volto a poder esperar por ti. Só espero poder esperar por ti sempre. Claro… quando não estiver a teu lado.

Estava muito frio, pensei que fosse nevar. Mas não.
Gostei de esperar por ti lá.
Gostei de estar contigo lá.
Espero lá voltar contigo.
Agora espero por ti aqui.
Tenho frio… não demores muito.

Afragola-Napoli
1/12/11  





quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Para descansar na areia.


Um olhar desviado
Pensavas que olhava para ti.
Não, hoje nada vejo.
Olhei e não vi nada.

O aperto no peito sufoca
Sufoca-me para além da dor
Parece que estou num local selado
Onde tudo e todos respiram o meu ar.

O temporal tolda-me a visão
Não consigo ver o monte
Já é de noite…
Só vejo vermelhas e brancas luzes

Onde toda esta gente quer ir?
Ir não sei, agora fugir sim.
Chove muito, não está agradável.

Era a teu lado que queria estar
Temporal ou não pouco importa
Um lugar agradável
Um destino seguro

Terei muito tempo para escrever
Parado é como estou.
Será que as pessoas que aqui estão e vão
Têm um porto seguro?

Também o que tenho eu com isso!

Levo os phones colocados
Crio uma redoma sonora.
Mas nada me é indiferente.

As rugas de uma vida na cara
Na cara de quem viaja a meu lado.
Vamos ambos de costas no sentido.
Mas não vale a pena regressar ao passado.

Aqui estou para no futuro ficar.
Como esta água toda que corre para o mar.
Eu só vejo o mar…
Um mar calmo e pacífico.

Nas ondas nado agora…
Vejo a ilha onde estás.
É lá que vou sair da água
Vou cair na areia e descansar.

As vagas são enormes…

26/10/2011

A4R
Afr-Nap

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Simples.

A sociedade está num caminho sem ordem… Cada vez mais o que sinto, é a falta de sentido nas pessoas por quem passo na rua. Aqui o crime é latente no ar… sente-se a sua presença. E claro que se vê isso na cara das pessoas. 

Entrei no metro e saí das entranhas do caminho-de-ferro passados dez minutos, e quando o fresco saudável me fustigava a cara pensa que estava a ter uma pura alucinação. Estava num local totalmente diferente. Pensei que estava a enlouquecer e sinto agora que quem passou por mim reparou nisso. A mim pouco me importa, pouco me interessa. Eu fico mais uma vez com a mesma sensação de que nada nem ninguém têm a sua rota traçada. Eu sabia para o que ia, eu tinha destino. E era tão desejado… a Pizzaria do Agunzo no bairro Vomero!  Não seria a primeira vez, mas seria a primeira vez só, e as coisas têm sempre um significado diferente, melhor ou pior. Dessa vez simplesmente não aconteceu… estava fechada. Pelos vistos o Agunzo encerra as suas velhas portas cheias de farpas ao Domingo!

Segui caminho, pensei porque não o funicular até MonteSanto para comer um outro tipo de pizza. E assim fiz. Mais uma vez tive a sensação de que tanto as pessoas que estavam comigo na carruagem descendente, como eu próprio, fazíamos mais do que uma viagem geograficamente insignificante. Era outro mundo, outros cheiros, outras cores, outros sons de gargalhadas. A vida glamorosa do topo do monte era para mim algo sintético, pois a vida que se sentia aqui quase nos deixa sem folgo. Na visita anterior o meu anfitrião sussurrou-me que as pessoas do topo do mundo, peço desculpa, do topo do morro não descem no funicular, já algumas cá do nível terreno por vez tomam o caminho ascendente. E eu lembro ter-lhe perguntado na altura, mas não vínhamos sozinhos na carruagem? A resposta foi sábia, os jovens ainda estão a viver a suas moratórias e pensa em ti… não és de cá.

Andando às voltas para me decidir qual o local para manjar uma Margaritta, passei por ruas e ruelas, e mesmo eu sem ter um aspecto totalmente díspar dos locais senti que olhos me percorriam ou pelos movimentos um pouco presos ou pelo cheiro não habitual, nunca deixei de passar a imagem de um total estranho.
Entrei numa das pizzarias do presidente, neste caso do filho, e por 5 euros comi uma pizza que por ser tão simples era fantástica.

É na simplicidade que me encontro, que me sinto bem, confortável… talvez por ser tão difícil encontrar a real simplicidade das coisas. O que é simples para nós? Algo simplesmente belo… 
Como tu…





domingo, 21 de agosto de 2011

O fim deste capítulo aproximasse… Tem sido mais que sumarento. Todos os sentidos foram exaltados, toda a resistência foi testada… primeiros dias entre neve e uma solidão extrema. Vivemos para nos testarmos, pelo menos eu sinto isso. Em tempos pensei que podia mudar o mundo, quando hoje vejo que é o mundo que me muda, todos os dias um pouco. Faço o possível para orientar essa mudança. Procurar o que queremos é uma batalha constante. Não tentem, façam!

Vi novas coisas, pessoas, emoções e sentimentos. Um frio físico imenso, e mais forte do que esse frio um frio emocional. Senti um Sol mais quente e húmido que o mais forte Hammam existente! Uma grandeza que me faz sentir ainda mais pequeno. “E também sei o quanto é importante na nossa vida não só sermos fortes, mas também sentirmo-nos fortes, para podermo-nos avaliar pelo menos uma vez…” Primo Levi.

Eu sempre pensei que existiam pessoas que estavam a mais neste nosso mundo, mas cada vez mais penso que não, elas existem pelo menos para nos demonstrar o que nós não queremos ser! Encontrei algumas pessoas assim na minha vida, aqui também me cruzei com algumas, mas aí foram muitas mais.

A verdade destas últimas linhas parece não terem nada a ver com o que antes foi escrito. Mas existe sempre o outro lado da moeda…

Faço por contemplar tudo o que o mundo me oferece, é tão difícil, somos empurrados para os caminhos mais tortuosos. Muitas vezes está tudo à nossa frente.

Vamos nos exaltar, vamos gritar, vamos chorar, vamos rir, vamos contemplar, vamos exclamar, temos que interrogar, claro que irei criticar, mas não irei ser inerte, isso não porra!

Vamos amar, vamos viver, vamos simplesmente existir… Já pensaram bem o quanto é difícil. Simplesmente existir, estar livre o verdadeiro sentido. Respirar só por respirar. Tentem existir só para existir, e aí vão encontrar os vossos maiores medos, terrores, ansiedades, mediocridades, necessidades ordinárias… Não vos falo em partir para longe da sociedade, não vos peço para ser ermitãs, realmente não vos peço nada. E aí está o vosso maior receio, o nosso maior terror. Existir simplesmente por existir. Talvez digam que não faz sentido, ok mas pouco me importa. Eu próprio não sei se faz sentido ou não. 





domingo, 24 de julho de 2011

Um estrangeiro estranho.

São tantas coisas novas que vejo. Tantas pessoas diferentes, estilos diferentes, cores diferentes cheiros diferentes, existe muita diferença aqui.
Somos tantos ao mesmo tempo, somos poucos iguais.

Uns dançam outros cantam outros parecem que têm ataques nervosos… eu vejo tudo de fora. Como uma câmara fotografia tento fixar todas estas imagens. Tento criar uma base de dados social. Para quê? Por diversão. Por curiosidade, por que me apetece.

Ontem éramos muitos, uns 20 mil no mesmo local. Fiquei com a sensação que eram tantos e eu o único português. Por momentos achei um pouco estranho, mas depois passou. É incrível o que o sentimento de pertença nos faz sentir. Mas por estar fora da minha realidade social achei muito interessante como aquele multidão viveu o momento de forma tão ordeira. Sem confusões para entrar no local, sem atritos para arranjar comida, sem empurrões quando simplesmente estavam a expressar os seus sentidos exaltados por música elevada a altos decibéis. Para mim foi estranhamente interessante como esta gente simplesmente aproveitou algo que era para aproveitar.

Afisha Picnic era o nome do evento, um festival de verão em Moscovo.

“People are strange when you’re a stranger” Será… acho que sim.  

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Quando saí do trabalho.

Mal saí pela porta a sensação de falta de ar era real.
Um céu negro, não preto mas de um cinza só com uma gota de branco. A electricidade da trovoada futura sentia-se nos pelos dos braços. 
Ainda não chovia mas ela vinha ai. Aí se vinha.
De ténis, calções e t-shirt olhei para o céu e sorri.
O transporte público levava-me na direcção contrária à intempérie...
Claro está que quem manda é a natureza. 
As nuvens mergulhavam a uma velocidade não visível. 
Acabamos engolidos por elas.
Quando começou a chover, e se chovia, as pessoas tinham na cara a incredibilidade da parvoíce. Pois com aquele céu era melhor trocar os veículos de 4 ou mais rodas por barcos.
Quando passámos o rio a chova batia com tanta força no leito negro que parecia que estávamos a disparar rajadas de metralhadoras. 

Do outro lado da margem viam-se alguns raios solares a passar entre as nuvens. Assim que essa partículas, que 8 minutos antes tinham deixado o Sol, me acariciaram a face senti a tua mão.
Debaixo de chuva, vento ou calor sinto a tua falta.

Entretanto tinha parado de chover, mas a promessa continuava escrita no céu.

Enquanto caminhava pelo parque em direcção ao metro senti o cheiro a terra molhada, vi as pessoas a sacudir os chapéus de chuva, desviei-me das poças de água e recordei com um sorriso na cara que o Verão tinha começado em Moscovo...

terça-feira, 7 de junho de 2011

Dar valor.


No meio da confusão, da bancarrota, do ilusionismo político, de modernices barrocas e do mais cabal nacional porreirismo, tudo é possível, até podemos ser felizes.

Estive uma semana em casa… saudades é pouco para este caso. Estive uma semana a vivenciar o amor, a amizade, a família, o país e os cães. Tudo na mesma o que demonstra a total diferença de realidades.

Como é possível o nosso país fazer tanta diferença. Gostava de saber se os outros, aqueles que são de outros países, sentem o mesmo que eu senti.  Estou num dos países das maiores oportunidades, num mundo por explorar, numa selva urbana fantástica e ainda assim no país dos pequenos e brandos costumes é que sou realmente feliz? Ainda não sei responder. 

Acredito que não foi a possibilidade de comer o nosso fantástico peixe que me deixou tão imensamente feliz. Já agora comi uns chocos com tinta que estavam para lá de bons… adorava ver a cara dos meus amigos russos se tivessem assistido a minha boca depois de ter devorado os chocos mais pretos deste mundo!!!

Não existe dinheiro que pague o nosso mar, ai Portugal Portugal, grande Jorge Palma. Mas a surpresa que fui fazer a quem estava em Portugal não foi nada quando comparada com a minha própria surpresa relativa ao que senti.
Sabia que estava muito longe e que esta distância nos mata por dentro e talvez por isso nos ajuda a atenuar a diferença de latitude e longitude. Agora o que o meu corpo e mente sentiram foi deveras díspar. A luz da minha cidade é tão intensa que quando sai para a rua de manhã nem conseguia abrir bem os olhos.

Ao fundo o mar… ao fundo o resto do mundo… é bom deixar tudo far behind quando sabemos que temos a nossa casa à espera. Ou não.
Temos que saber dar valor…